quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Pra fechar 2010, Marta Medeiros pros nossos olhos e sentidos...indicado por Pati... Que venha 2011 com muitos fragmentos notáveis!

"...dos habituais comportamentos
contemporâneos
optar é deles o mais desumano
escolher entre tantos
a quem vou amar
se telefono agora ou depois
ou não ligo
se insisto ou desisto
ou nem isso
peço demissão
fico grávida
troco de país
mudo de vida
(e que verso vem agora
o que inventar
para continuar sendo lida)
que saudade me fará o calor
caso venha a preferir o frio
e estando a escolha feita
nada me convence
ou tranquiliza
estou sempre de olho na outra margem do rio
...
silêncio, estou escrevendo
e não sei se destas palavras
sairá como mágica um poema
uma reportagem ou um recado
não sei em que se transformará
este grupo de sujeitos e advérbios
que buscam aqui reunidos
decifrar todos os meus medos
silêncio, estou me escutando
e quem fala são meus dedos"

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"Do amor"- Paulinho Moska. não me canso...pra registrar aqui, porque vale a pena

"Não falo do amor romântico,
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão,
paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida,
explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto,
formatado, inteiro, antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim,
que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído,
inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido,
quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio,
com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha e
nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
o amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita.
Ou melhor, só se Vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto."

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

E Fídias de novo, (a)notando lindos fragmentos...

"O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Embora, inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento. Sem medida que eu conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza. Não tem começo, não tem fim. Rico não é o homem que coleciona e se pesa num amontoado de moedas, nem aquele devasso que estende as mãos e braços em terras largas. Rico só é o homem que aprendeu piedoso e humilde a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura. Não se rebelando contra o seu curso. Brindando antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira. O equilíbrio da vida está essencialmente neste bem supremo. E quem souber com acerto a quantidade de vagar com a de espera que deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco de buscar por elas e defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo, dá a justa 'atudeza' das coisas".

(Raduan Nassar - Lavoura Arcaica)

Um grande amigo, Fídias mandou e trouxe pra cá... e é Guimarães Rosa!!

"Note-se e medite-se. Para mim mesmo, sou anônimo; o mais fundo de meus pensamentos não entende minhas palavras; só sabemos de nós mesmos com muita confusão."

Se Eu Seria Personagem -
Guimarães Rosa, 1965

sábado, 27 de novembro de 2010

Vida/tempo

"eu acho que a vida anda passando a mão em mim

eu acho que a vida anda passando a mão em mim

eu acho que a vida anda passando

eu acho que a vida anda

a vida anda em mim

a vida anda

eu acho que há vida em mim

há vida em mim

acho que a vida anda passando

a vida anda passando a mão em mim

e por falar em sexo

quem anda me comendo é o tempo

se bem que já faz tempo, mas eu escondia

porque ele me pegava a força

e por trás

até que um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo, se você tem que me comer

que seja com meu consentimento, e me olhando nos olhos…

eu acho que eu ganhei o tempo

de lá pra cá ele tem sido bom comigo

dizem

que ando até remoçando."

(Viviane Mosé – Vida/Tempo)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tenho lido Eduardo Galeano, presente de Wilka! e vários contos notáveis... gostei muito do jeito dele de escrever...

Causos

Nos antigamentes, dom Verídico semeou casas e gentes em volta do botequim El Resorte, para que o botequim não se sentisse sozinho. Este causo aconteceu, dizem por aí, no povoado por ele nascido.
E dizem por aí que ali havia um tesouro, escondido na casa de um velhinho todo mequetrefe.
Uma vez por mês, o velhinho, que estava nas últimas, se levantava da cama e ia receber a pensão.
Aproveitando a ausência, alguns ladrões, vindos de Montevidéu, invadiram a casa.
Os ladrões buscaram e buscaram o tesouro em cada canto. A única coisa que encontraram foi um baú de madeira, coberto de trapos, num canto do porão. O tremendo cadeado que o defendia resistiu, invicto, ao ataque das gazuas.
E assim, levaram o baú. Quando finalmente conseguiram abri-lo, já longe dali, descobriram que o baú estava cheio de cartas. Eram as cartas de amor que o velhinho tinha recebido ao longo de sua longa vida.
Os ladrões iam queimar as cartas. Discutiram. Finalmente, decidiram devolvê-las. Uma por semana.
Desde então, ao meio-dia de cada segunda- feira, o velhinho se sentava no alto da colina. E lá esperava que aparecesse o carteiro no caminho.Mal via o cavalo, gordo de alforjes, entre as árvores, o velhinho desandava a correr. O carteiro, que já sabia, trazia sua carta nas mãos.
E até São Pedro escutava as batidas daquele coração enlouquecido de alegria por receber palavras de mulher.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tentei, tentei, tentei, em vão, retirar um fragmento desse texto que Layá mandou...vale a pena..todo ele

PARA MARIA DA GRAÇA

Agora que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade é louca, Maria.
Nem o papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: “Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?”
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: “Oh, I beg your pardon!” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto-de-vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostaria de gatos se fosses eu?”
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! Mas quem ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: “Minha história é longa e triste!” Ouvirá isso milhares de vezes. Como ouvirá a terrível variante: “minha vida daria um romance”. Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance é só um jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: “Minha vida daria um romance!” Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria. Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desespere ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo”. Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta essa parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um rato por hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor.
Toda pessoa deve ter três caixas para guardar o humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheio de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”.
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

Paulo Mendes Campos

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Fragmento de uma música do Otto...e toca...

Num dia assim calado você me mostrou a vida

E agora vem dizer pra mim que é despedida...

O leite
Otto- do CD 'Certa manhã acordei de sonhos intranquilos'

Catavento e Girassol... linda demais..letra e música

Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora
Do teu girassol
Entre o escancaro e o contido,
Eu te pedi sustenido
E você riu bemol
Você só pensa no espaço,
Eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio,
Você é litorânea

Quando eu respeito os sinais vejo você de patins
Vindo na contramão
Mas quando ataco de macho,
Você se faz de capacho
E não quer confusão
Nenhum dos dois se entregam,
Nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai
No sumidouro do espelho
Eu sou você que se vai
No sumidouro do espelho

Eu sou do Engenho de Dentro e você vive
No vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva,
O inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow,
O outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta
Você dança havaiana

Eu vou de tênis e jeans,
Encontro você demais,
Scarpin,
Soiré
Quando o pau quebra na esquina,
Cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha
E ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou
No sumidouro do espelho
Você sou eu que me vou
No sumidouro do espelho

A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval
Aumentam os desenganos
Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos

Meu catavento tem dentro
O vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho
De Dentro da flor
Eu sinto muita saudade,
Você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço,
Você é tão espontânea

Sei que um depende do outro só pra ser diferente,
Pra se completar
Sei que um se afasta do outro, No sufoco,
Somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser
E eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho
Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho

Mas os dois juntos se vão


Leila Pinheira- composição: Guinga- Aldir Blanc

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Layá mandou....e adorei...e postei...

“Por muitos anos, eu escrevia com palavras.
O corpo por trás das palavras estava invisível.
Agora, estou escrevendo com corpos – com meu corpo e os corpos dos dançarinos.
Enfim, não há mais diferença entre escrever com palavras e escrever com corpos.”

Raimund Hoghe

http://www.fid.com.br/2010/espetaculo/palestra-demonstracao-corpo-espaco-musica-2009/

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Por Anderson, amigo das palavras, nas palavras...um belo encontro virtual, e enviou fragmento de Caio, introduzido com lindas palavras:

'hoje a tarde comi pastel e tomei caldo de cana. estou lendo caio.essa semana colhi flores duas vezes e olhei para a lua varias vezes. li vinícius de morais para meu sobrinho...' por Anderson


E agora, Caio

"e acho que escrever uma história é uma coisa muito boa. O coração da gente fica mais quentinho e a gente gosta mais das pessoas. A coisa que uma pessoa mais precisa na vida é gostar das outras pessoas e ser gostado, também. Aí, pra ser gostado, a gente escreve histórias."

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Escreví isso há um tempo...mas hoje, depois de assistir "Simplesmente eu, Clarice Lispector" no teatro, me veio, como quando contacto quaquer arte...

"A arte me perde
sabe, assim perder
de ser mesmo, de pensar no que tá fazendo por aqui
pela terra, pelo mundo...
Me perde pela beleza, pela delicadeza,
pela função que a arte tem de tocar...
e toca mesmo
me toca ao ponto de me perder
e ter a sensação de paralizar, e ficar ali
contemplando aquela beleza, ouvindo, lendo
e pensando por que não fazer parte dela ou
como fazer parte...
como fazer arte
como tocar...fazer sentir assim, como sinto
e me entrego e me paraliso diante do belo,
daquilo que toca
das tentativas de transformar sensações,
sentimentos, pensamentos, idéias
em música, teatro, pinturas, danças, filmes...
ações..
É...Ações que me fazem paralisar
contradição...ação
e assim vou...e sonho e penso e quero sempre
fazer/ser mil coisas...
e fico aí
tô aqui..."

e como vale a pena assistir, ouvir, sentir esse espetáculo...

Para Anderson

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Encontrei na paginadodesassossego.blogspot do Gui... Para Wilka.. achei você aqui!

"Efêmera"

Tulipa Ruiz


Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se acontece alguma coisa nessa tarde de domingo
Hoje é o tempo preu ficar devagarinho
com as coisas que eu gosto e que eu sei que são efêmeras
e que passam perecíveis
e acabam, se despedem, mas eu nunca me esqueço


Por isso eu vou ficar mais um pouquinho
Para ver se eu aprendo alguma coisa nessa parte do caminho
Martelo o tempo preu ficar mais pianinho
com as coisas que eu gosto e que nunca são efêmeras
e que estão despetaladas, acabadas
Sempre pedem um tipo de recomeço


Vou ficar mais um pouquinho, eu vou
Vou ficar mais um pouquinho
para ver se acontece alguma nessa tarde de domingo
Vou ficar mais um pouquinho
para ver se eu aprendo alguma nessa parte do caminho

domingo, 10 de outubro de 2010

Lendo o jornal de domingo, me encontrei com esse fragmento...

"Escrevo pela necessidade de ter outro corpo. E esse não tem pneumonia, sobrevive à precariedade. A poesia existe porque a vida não basta."


Ferreira Gullar, ao lançar o DVD do seu "Poema Sujo"

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Encontrei essa frase "perdida" em um daqueles emails que todos nós recebemos aos montes e, de vez em quando, abro... dessa vez, valeu por esta...

"Quando nada é certo,
tudo é possível."

Margareth Drabble- escritora

Indicação de Clarice, recitado por Lirinha, de Otto... sempre bom!!

"O desejo é um tempo parado
É quando se trocam as datas dos bichos e das flores
É quando aumenta a rachadura da velha parede
É quando se vira a folha, a folha da história
É quando se pinta um fio branco na cabeleira preta
É quando se endurece o rastro de sorriso
No canto dos olhos
Eu sei que a viagem é longa
A voz vai e vem
Você ta aí?
Você ta aí?
Ei, voce está aí?
Vontade de abraçar o infinito"

Da música "Meu mundo dança", do CD "Certas manhãs acordei de sonhos intranquilos" do Otto...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Inaugurando Guimarães Rosa aqui...

" A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

Guimarães Rosa

Para Fídias

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Menina amanhã de manhã- de Tom Zé!

"Menina amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens

Na hora ninguém escapa
Debaixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens

Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado

Menina, olhe pra frente
Menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto
Segura o jogo, atenção de manhã

Menina a felicidade é cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça
Menina a felicidade é cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono
Menina a felicidade é cheia de ano, é cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de ono
Menina a felicidade é cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on
Menina a felicidade é cheia de a, é cheia de é
É cheia de i, é cheia de ó
É cheia de a, é cheia de é, é cheia de i, é cheia de ó"

Tom Zé e Perna

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um belo encontro com um novo amigo, Anderson, trouxe esses fragmentos de Clarice Lispector sobre o escrever...que venham outros!!!

"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida." (Um sopro de vida)

"As vezes escrever uma só linha basta para salvar o próprio coração."
(Um sopro de vida)

"Faço poesia não porque seja poeta, mas para exercitar minha alma, é o exercício mais profundo do homem." (Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)

Obrigada Anderson!!! Bem vindo!

sábado, 7 de agosto de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reflexões a partir da leitura de Milan Kundera

Talvez escrever seja também a tentativa de construção de paredes, de volumes do nosso ser...de limites além do corpo, limites na palavra, e para além dela, que é sem limite...


"É por isso que ela quer tão desesperadamente ter em casa esse embrulho de diários e cartas.
Evidentemente, sabe que existe também nos diários uma porção de coisas desagradáveis, dias de insatisfação, de brigas e até mesmo de tédio, mas não se trata disso absolutamente. Ela não quer devolver ao passado sua poesia. Quer lhe devolver seu corpo perdido. O que a impele não é um desejo de beleza.É um desejo de vida.
Pois Tamina está à deriva numa jangada e olha para trás, somente para trás. O volume do seu ser não é senão aquilo que ela vê lá longe, atrás dela. Assim como seu passado se contrai, se desfaz, se dissolve, Tamina encolhe e perde seus contornos.
Ela quer ter esses diários para que a frágil estrutura dos acontecimentos, tal como a construiu em seu diário, possa receber paredes e tornar-se a casa onde ela poderá morar. Porque,se o edifício vacilante das lembranças cai como uma tenda mal levantada, não vai sobrar nada de Tamina a não ser o presente, esse ponto invisível, esse nada que avança lentamente em direção à morte."

O livro do riso e do esquecimento- Milan Kundera

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Me deparei com essa frase num muro da cidade...adorei!

"Meus olhos olham pras coisas sem minha permissão..."

sábado, 19 de junho de 2010

E louvemos a dança...

Propagandas à parte, linda demais essa "oração à dança"
Coloquemos em prática, sempre...
GENTE, É SÓ CLICAR DUAS VEZES EM CIMA DA IMAGEM QUE ELA AUMENTA E DÁ PRA LER...Teve gente que me falou que não coseguiu ler, por isso essa observação...




Para Aline, com quem já viví bons momentos dançando...

sábado, 12 de junho de 2010

Até nos comentários dos fragmentos, encontro estes, e bem notáveis aos meus olhos, lindo!... Este de uma especial Clarice, que está sempre por aqui...

"Momento e tempo....inverso proporcional?
O tempo é uma preparação e o momento é uma absorção...Inverso proporcional?
Ou seria tudo igual?
Agora eu busco o tempo. Mas, tem como alcançá-lo?
Preferiria não ter o momento...Mas, tem como evitá-lo?"

Clarice Castanheira

Pra descontrair, nas palavras de Clarice, agora a irmã, "é quase uma gozação...mas, vi isso no facebook e achei tão propício..." realmente..

"O amor não faz o coração bater mais rápido.
O nome disso é arritmia.
O amor é outra coisa."

Layá e seu momento 'Caio Fernado de Abreu'...

"Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. "

"Encarnações involuntárias"...um conto por inteiro de Clarice Lispector..não conseguí escolher apenas um fragmento deste..

" Às vezes, quando vejo uma pessoa que nunca ví, e tenho algum tempo para observá-la, eu me encarno nela e assim dou um grande passo para conhecê-la. E essa intrusão numa pessoa, qualquer que seja ela, nunca termina pela sua própria auto-acusação: ao nela me encarnar, compreendo-lhe os motivos e perdôo. Preciso é prestar atenção para não me encarnar numa vida perigosa e atraente, e que por isso mesmo eu não queira o retorno a mim mesmo.
Um dia, no avião...ah, meu Deus- implorei- isso não, não quero ser essa missionária!
Mas era inútil. Eu sabia que, por causa de três horas de sua presença, eu por vários dias seria missionária. A magreza e delixadeza extremamente polida de missionária já me haviam tomado. É com curiosidade, algum deslumbramento e cansaço prévio que sucumbo À vida que vou experimentar por uns dias viver. E com alguma apreensão, do ponto-de-vista prático: ando agora muito ocupada demais com os meus deveres e prazeres para poder arcar com o peso dessa vida que não conheço- mas cuja tensão evangelical já começo a sentir. No avião mesmo percebo que já comecei a andar com esse passo de santa leiga: então compreendo como a missionária é paciente, como se apaga com esse passo que mal quer tocar no chão, como se pisar mais forte viesse prejudicar os outros. Agora sou pálida, sem nenhuma pintura nos lábios, tenho o rosto fino e uso aquela espécie de chapéu de missionária.
Quando eu saltar em terra provavelmente já terei esse ar de sofrimento-superado-pela-paz-de-ter-uma-missão. E no meu rosto estará impressa a doçura da esperança moral. Porque sobretudo me tornei toda moral. No entanto quando entrei no avião estava tão sabiamente amoral. Estava, não, estou! Grito-me eu em revolta contra os preconceitos da missionária. Inútil: toda a minha força está sendo usada para eu conseguir ser frágil. Finjo ler uma revista, enquanto ela lê a bíblia.
Vamos ter uma descida curta em terra. O aeromoço distribui chicletes. E ela cora mal o rapaz se aproxima.
Em terra sou uma missionária ao vento do aeroporto, seguro minhas imaginárias saias longas e cinzentas contra o despudor do vento. Entendo, entendo. Entendo-a, ah, como a entendo e ao seu pudor de existir quando está fora das horas em que cumpre sua missão. Acuso, como a missionariazinha, as saias curtas das mulheres, tentação para os homens. E quando não entendo, é com o mesmo fanatismo depurado dessa mulher pálida que facilmente cora à aproximação do rapaz que nos avisa que devemos prosseguir viagem.
Já sei que só daí a dias conseguirei recomeçar enfim integralmente a minha própria vida. Que, quem sabe, talvez nunca tenha sido própria, senão no momento de nascer, e o resto tenha sido própria, senão no momento de nascer, e o resto tenha sido encarnações. Mas não: eu sou uma pessoa. E quando o fantasma de mim mesma me toma- então é um tal encontro de alegria, uma tal festa, que a modo de dizer choramos uma no ombro da outra. Depois enxugamos as lágrimas felizes, meu fantasma se incorpora plenamente em mim, e saímos com alguma altivez por esse mundo afora.
Uma vez, também em viagem, encontrei uma prostituta perfumadíssima que fumava entrefechando os olhos e estes ao mesmo tempo olhavam fixamente um homem que já estava sendo hipnotizado. Passei imediatamente, para melhor compreender, a fumar de olhos entrefechados para o único homem ao alcance de minha visão intencionada. Mas o homem gordo que eu olhava para experimentar e ter a alma da prostituta, o gordo estava mergulhado no New York Times. E meu perfume era discreto demais. Falhou tudo."



Me ví em Clarice nesse conto...não com a intensidade característica de 'Clarices', mas com a curiosidade de conhecer histórias, vidas... e quis compartilhá-lo por inteiro...e não fragmentado...este não!! bom divertir-se com ele até o fim...

Clarice Lispector e sua "predileção" por falar de galinhas e amor...

" A menina ainda não tinha entendido que os homens não podem ser curados de serem homens e as galinhas de serem galinhas: tanto o homem como a galinha têm misérias e grandeza (a da galinha é a de pôr um ovo branco de forma perfeita) inerentes à própria espécie."

Clarice Lispector- "Uma história de tanto amor"

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Do amor...

"Não falo do AMOR romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento. Relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com AMOR. Chamam de AMOR esse querer escravo, e pensam que o AMOR é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o AMOR já estava pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado. Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta. A virtude do AMOR é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado. O AMOR está em movimento eterno, em velocidade infinita. O AMOR é um móbile. Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo? E como impedir que a imagem sedentária e cansada do AMOR nos domine?
Minha resposta? O AMOR é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o AMOR será sempre o desconhecido, a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do AMOR é a de um ser em mutação. O AMOR quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante.
A vida do AMOR depende dessa interferência. A morte do AMOR é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta. Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não, não podemos subestimar o AMOR não podemos castrá-lo.
O AMOR não é orgânico. Não é meu coração que sente o AMOR. É a minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O AMOR faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém-nascidas. O AMOR brilha. Como uma aurora colorida e misteriosa, como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, o AMOR grita seu silêncio e nos dá sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do AMOR, se estivermos também a devorá-lo.
O AMOR, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o AMOR a navega. Morrer de AMOR é a substância de que a Vida é feita. Ou melhor, só se Vive no AMOR. E a língua do AMOR é a língua que eu falo e escuto." Paulinho Moska

Para Clarice e seu momento...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Caio Fernando de Abreu em Laysa...

"Não conseguia compreender como conseguira penetrar naquilo sem ter
consciência e sem o menor policiamento: logo eu, que confiava nos meus
processos, e que dizia sempre saber de tudo quanto fazia ou dizia. A
vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me
alimentado até o momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem
sol, olhos fixos no teto claro, suportava um cigarro na mão direita e
uma ausência na mão esquerda. Seria sem sentido chorar, então chorei
enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser
feito era qualquer coisa sem sentido. Durante algum tempo fiz coisas
antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível:
fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não
solucionaram."

terça-feira, 25 de maio de 2010

Encontrei no meio de minhas coisas, anotado, sem autor...

" A escrita é mais próxima do silêncio, mais próxima da solidão, mais próxima da verdade (...) Escreve-se no âmago do silêncio aonde a fala não vai. Escreve-se onde se vive, onde se está, o mais próximo de si e do outro. Há uma eternidade na escrita. É a eternidade de viver, mas sem véus." Toda fala é do instante; toda escrita, da duração. É essa duração que o leitor descobre, redescobre, habita."

Sem música, a vida realmente não seria...

"Creio que não sou músico justamente por não ser romântico
mas sem a música a vida seria para mim um erro..."

Nietzsche

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ainda ela, com suas palavras tão verdadeiramente intrigantes...

" A pior parte da visitação era a do silêncio. Eu erguia os olhos da máquina, e não saberia há quanto tempo Ofélia me olhava em silêncio. O que em mim pode atrair essa menina? exaperava-me eu. Uma vez, depois de seu longo silêncio, dissera-me tranquila: a senhora é esquisita. E eu, atingida em cheio no rosto sem cobertura- logo no rosto que sendo o nosso avesso é coisa tão sensível- eu, atingida em cheio, pensara com raiva: pois vai ver que é esse esquisito mesmo que você procura. Ela que estava toda coberta, e tinha mãe coberta, e pai coberto."

Clarice Lispector - A legião estrangeira

18 maio 2010

Sobre uma página 'desassossegada'...

Tenho 'passado' pelo blog de um grande amigo, que me inspirou na construção deste.... http://paginadodesassossego.blogspot.com/ inclusive, na minha passada, me ví por lá...e de lá, me ví em outro...
Vale a pena dar esse passeio!! e nele há "passagem gratuita!" para vários outros blogs interessantíssimos, com fragementos, imagens, sons, afins... arte pra se apreciar, pra se degustar...

14 maio 2010

Uma alegria sutil de Clarice Lispector... estou na leitura constante desta...e não há como não se encantar, ser instigada em diversos contos..

" Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz."

Clarice Lispector- Restos de Carnaval
06 maio 2010

O mesmo conto de Clarice, do ovo e da galinha, me rendeu outro fragmento...aliás, este conto revela muitos...coisas de Clarice!

" Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, a um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e isto chamamos de amor. E então não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente."

Clarice Lispector- O ovo e a galinha - Felicidade Clandestina
06 maio 2010

A Clarice enviou um fragmento de um conto da outra, Clarice! E este a digestão se faz necessária ainda mais lenta..e vai valendo a pena fazê-la...

"E eis que não entendo o ovo. Só entendo ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem já viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver."

Clarice Lispector- O ovo e a galinha -Felicidade Clandestina

6 maio 2010

O caderninho incansável da amiga layá... Caderno tal que está se findando, e, quem sabe, acompanhando o fechamento de um ciclo de sua vida...

"Lugar sem comportamento é o coração
Ando em vias de ser compartilhado.Ajeito as nunvens no olho.A luz das horas me desproporciona.Sou qualquer coisa judiada de ventos.Meu fanal é um poente com andorinhas.Desenvolvo meu ser até/ encontra na pedra.Repousa uma garoa sobre a noite.Aceito no meu fado o escurecer.No fim da treva uma coruja entrava."
Manuel de Barros

* Obrigado Layá, por tantos lindos fragmentos... sua "presença" faz me sentir mais perto... sinto vivendo com você um pouquinho desse momento, desse ciclo ...

15 Abr 2010

Nas palavras da amiga Wilka: "Um livro visceral, do jeito que gosto, que me tire o sono e que me faça sofrer"

"Tomas pensava: deitar com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não somente diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo
do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."

Milan Kundera "A insustentável Levesa do Ser"


Esse livro é mesmo lindo, tocante..me traz lembranças da época que morei no Vale do Jequitinhnha, e estava de molho, sem trabalhar, com o pé torcido... aí mergulhei em Milan Kundera e Gabriel Garcia Marques....
15 Abr 2010

O primeiro, vindo direto 'do caderninho de registros' da mesma grande amiga, Layá!!

"Pousar (estender) significa:levar algo a se deitar. Pousar é também, ao mesmo tempo, deitar uma coisa junto a outra, recolher.
Pousar é sinônimo de colher.
O colher [...](tem o) sentido de: trazer-junto-para-o-estender-diante[...]
Na colheita da uva se tiram os cachos da parreira. Colher e apanhar terminam num ajuntar. [...]
Do recolher faz parte procurar e trazer para um lugar.
Ali domina o abrigar; e neste, por sua vez, o aguardar. [...]"

Heidgger

11 Abr 2010

Desabafos da madrugada da amiga Layá...

"O ar da madrugada é pesado no silêncio. Nunca que os pensamentos antes me acordavam, Quero ler as palavras que não estão lá e desconstruir este arquipélago de insônia. Faz tempo que eu nao ia pra dentro empurrada de mim. Nisso, tudo tem mais aderência."

28 março 2010

Uma poética forma de dizer dosilêncio...pausas entre conversas...

" Por alguns instantes Liesel ficou calada. Era uma daquelas conversas que precisam que um tempo se escoe entre um dito e outro."

A menina que roubava livros- Marcus Zusak
27 fev 2010

E por falar em dor...

"A mulher do prefeito era apenas uma numa brigada mundial. Você já a viu antes, tenho certeza. Em suas histórias, seus poemas, nos filmes a que gosta de assistir. Elas estão em toda parte, então, por que não aqui? Por que não numa bela colina de uma cidadezinha alemã? É um lugar tão bom quanto qualquer outro para sofrer. A questão é que Ilsa Hermann tinha resolvido fazer do sofrimento sua vitória. Quando a dor se recusou a largá-la, a mulher sucumbiu a ela. Abraçou-a. Podia ter-se matado com um tiro, ter-se arranhado ou se entregado a outras formas de automutilação, mas escolheu a que provavelmente achava ser a opção mais fraca- ao menos suportar o desconforto do clima."

Marcus Zusak- A menina que roubava livros
20 Fev 2010

Sobre o sono e o sonhar

"O sonífero não tem mais efeito imediato, e já sei que o caminho do sono é como um corredor cheio de pensamentos. Ouço ruídos de gente, de vísceras, um sujeito entubado sons rascantes, talvez queira me diger alguma coisa. O médico plantonista vai entrar apressado, tomar meu pulso, talvez me diga alguma coisa. Um padre chegará para a visita aos enfermos, falará baixinho palavras em latim, mas não deve ser comigo. Sirene na rua, telefone, passos, há sempre uma expectativa que me impede de cair no sono. É a mão que me sustém pelos raros cabelos. Até eu topar na porta de um pensamento oco, que tragará para as profundezas, onde costumo sonhar em preto-e-branco."
Chico Buarque- Leite Derramado
20 Fev 2010