quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

In the end, I’ve come to believe in something I call “The Physics of the Quest.” A force in nature governed by laws as real as the laws of gravity. The rule of Quest Physics goes something like this: If you’re brave enough to leave behind everything familiar and comforting, which can be anything from your house to bitter, old resentments, and set out on a truth-seeking journey, either externally or internally, and if you are truly willing to regard everything that happens to you on that journey as a clue and if you accept everyone you meet along the way as a teacher and if you are prepared, most of all, to face and forgive some very difficult realities about yourself, then the truth will not be withheld from you. 


Eat, Pray, Love. Liz Gilbert.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E disse Paulinho da Viola...

'Um mestre do verso, de olhar destemido
Disse uma vez, com certa ironia:
“Se lágrima fosse de pedra,
Eu choraria.”
E eu, Boca, como sempre perdido,
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores,
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada,
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra.'


Bebadosamba

sábado, 17 de agosto de 2013


"-Estou cansada.
Vou viajar...

- Ah! a cura geográfica."

Diálogo no filme "Flores Raras"

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Mundo Grande
Carlos Drummond de Andrade

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.

Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.


Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.

Sugestões para atravessar agosto...

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro — e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.


Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.

Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos — ou precauções — úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile à fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu — sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques — tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não deem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas — coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pra que serve o carnaval?

"Ah, minha amiga

Se fosse carnaval eu te pedia

Pedia um beijo

Pedia o sorriso dos teus olhos

Pedia tua beleza, tua carne, tua intimidade

Que é pra isso que serve o carnaval

Pra afogar todas às magoas

Todo o ressentimento

Pra abrir o couro e fazer o choro

( É pra isso que serve o carnaval )

Pra começar tudo de novo

Pra tristeza sair em forma de marchinha

Regada a todo tipo de bebida

Disfarçada de alegria sem falsa modéstia

Mas ao fim, ao relutante fim, ela vai se embora

Sobra ao chão o confete e as garrafas

Corpos dormidos que foram bem quistos

E nos hotéis e motéis os lençóis usados

O silêncio enfim do ano duro que se foi

Porque o ano só começa mesmo depois do carnaval

A vida diária só começa depois dessa seresta

Depois que já se foi muito sal grosso ao balanço do mar

Ah, minha amiga, O carnaval !

Pra cortar todas as veias

Pra abrir todas as artérias

Pra levantar toda poeira

Fazer correr o sangue novo

Extravasar toda besteira

Todo grito engolido do ano que se foi

Todos estes verbos tem o carnaval

Carnaval não é brincadeira

É coisa séria

É a união da massa em toda sua potência

Ninguém destrói o carnaval !

Quem sabe pensasse o letrado

Em se misturar à gentalha

E daí todos na maior cangalha

Ir sambar o Congresso

Porque o que falta à estes finados

É o tal pé surrado e o coração fudido

Mas que ao som do batuque

Continua sua marcha

Sim, no carnaval todo mundo é igual

Todo peito chora

Toda boca beija

E quer queira ou não

Toda pele extravasa alguma emoção

Aí a magia e o poder do carnaval

Essa ruptura no tempo e no espaço

Esse deslocamento da razão

Onde toda liberdade é feita

À gostos e contra gostos

Porque nos outros dias todo mundo é normal

Nos outros dias é ‘isso pode’ e ‘isso não pode’

Mas não no carnaval

Homem se veste de mulher

Mulher se veste de homem

Tudo fica aberto à fantasia

É a tal lei da alegria

E, exceto a casos fortuitos,

Tudo se dá no maior arranjo

Até ! os casos de amor e traição

Ah, minha amiga

É pra isso que serve o carnaval

E voltando ao começo

Eu te pedia, se fosse carnaval,

Um beijo

Um prolongado e demorado beijo

Pra findar toda dor do meu coração."

Por Rodrigo Brand, aqui http://poesiasbrandas.blog.com/2013/02/07/pra-que-serve-o-carnaval/