Jornada
Wado
Se a jornada é o destino
Eu prefiro o mistério
Abraço o mistério
Não vá se entregar
Quem vai chegar
Quem vai partir
Quem vai ficar
Colho flores no caminho
Eu prefiro o mistério
E levo a sério
Não prever demais
Quem vai sorrir
Quem vai pagar
Quem vai sumir
Como as flores
Fragmentos, estrofes, rimas, músicas, literatura, poesia notáveis aos meus olhos e de outros...
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Desejos pra 2012!!! Como a chuva que estia, que várias coisas estiem com o tempo...
"Quero comer, quero mamar
Quero preguiça, quero querer
Quero sonhar, felicidade
É o amor, é o calor
A cor da vida, é o verão
Meu coração, é a cidade..."
Tempo de Estio- Caetano Veloso
Quero preguiça, quero querer
Quero sonhar, felicidade
É o amor, é o calor
A cor da vida, é o verão
Meu coração, é a cidade..."
Tempo de Estio- Caetano Veloso
domingo, 27 de novembro de 2011
Mulher Segundo Meu Pai
Itamar Assumpção
Bem que meu pai me avisou
Homem não sabe, mulher
Falou que seu pai, meu avô
Mulher é o que Deus quiser
às vezes quer uma flor
às vezes só um cafuné
Precisa de muito amor, haja amor
Pra sempre carinho quer
Segundo meu pai
Mulher costuma muito chorar
Suspira pelo que quer a mulher
Mania tem de sangrar
Entrega-se na colher
A quem não vai se entregar
Meu pai falou que mulher,
A mulher deve ter parte com o mar
Bem que meu pai me avisou
Homem não sabe, mulher
Falou que seu pai, meu avô
Mulher é o que Deus quiser
às vezes quer uma flor
às vezes só um cafuné
Precisa de muito amor, haja amor
Pra sempre carinho quer
Segundo meu pai
Mulher costuma muito chorar
Suspira pelo que quer a mulher
Mania tem de sangrar
Entrega-se na colher
A quem não vai se entregar
Meu pai falou que mulher,
A mulher deve ter parte com o mar
Itamar Assumpção
Bem que meu pai me avisou
Homem não sabe, mulher
Falou que seu pai, meu avô
Mulher é o que Deus quiser
às vezes quer uma flor
às vezes só um cafuné
Precisa de muito amor, haja amor
Pra sempre carinho quer
Segundo meu pai
Mulher costuma muito chorar
Suspira pelo que quer a mulher
Mania tem de sangrar
Entrega-se na colher
A quem não vai se entregar
Meu pai falou que mulher,
A mulher deve ter parte com o mar
Bem que meu pai me avisou
Homem não sabe, mulher
Falou que seu pai, meu avô
Mulher é o que Deus quiser
às vezes quer uma flor
às vezes só um cafuné
Precisa de muito amor, haja amor
Pra sempre carinho quer
Segundo meu pai
Mulher costuma muito chorar
Suspira pelo que quer a mulher
Mania tem de sangrar
Entrega-se na colher
A quem não vai se entregar
Meu pai falou que mulher,
A mulher deve ter parte com o mar
domingo, 20 de novembro de 2011
e mais...
"Não iria mais em busca dele.
Enfim ela tomou-se do que fazer.
Era uma decisão aceitada vinda do outro.
Porque a repelia com violência docilizada.
Isso fazia doer mais. Porque era intensão encoberta: só para ele, porque estava tudo ali.
Lido em seus discursos atravessados de um desejo de não poder pegar pra si o que queria.
Ele falseava atitudes porque achava bonito ser livre.
Mas ela não conseguia ver nele essa liberdade.
Ela entendia de outra liberdade. O que gritava era uma querência de mais em menos. Mas podia estar toda errada. Podia mesmo. Ela caíra no esquecimento dos corpos e o que fora dito em movimento se silenciou. Em fim."
Enfim ela tomou-se do que fazer.
Era uma decisão aceitada vinda do outro.
Porque a repelia com violência docilizada.
Isso fazia doer mais. Porque era intensão encoberta: só para ele, porque estava tudo ali.
Lido em seus discursos atravessados de um desejo de não poder pegar pra si o que queria.
Ele falseava atitudes porque achava bonito ser livre.
Mas ela não conseguia ver nele essa liberdade.
Ela entendia de outra liberdade. O que gritava era uma querência de mais em menos. Mas podia estar toda errada. Podia mesmo. Ela caíra no esquecimento dos corpos e o que fora dito em movimento se silenciou. Em fim."
Criações sobre o efeito da dor...Layá...
O QUE FICOU
era possível que daria nisso
mas ela só saberia indo.
e foi, e viu.
era fazer doer
era uma intensão vista.
Ela se afastaria com propósito de querer-se
e isso lhe bastava agora.
Um ponto de fim
uma peça acabada: serás sem mim.
era possível que daria nisso
mas ela só saberia indo.
e foi, e viu.
era fazer doer
era uma intensão vista.
Ela se afastaria com propósito de querer-se
e isso lhe bastava agora.
Um ponto de fim
uma peça acabada: serás sem mim.
sábado, 19 de novembro de 2011
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Fídias que mostrou esse fragmento...e é lindo...
"Ele escreve versos! Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha. - Há antecedentes na família? [...] Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança do tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino: - Dói-te alguma coisa? - Dói-me a vida, doutor. O doutor suspendeu a escrita. [...] O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo: - E o que fazes quando te assaltam essas dores? - O que melhor sei fazer, excelência. - E o que é? - É sonhar. "
Mia Couto- O menino que escrevia versos- O fio das miçangas
Mia Couto- O menino que escrevia versos- O fio das miçangas
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
de Layá...lindos escritos...fragmentos de vida...da vida...
De repente o tempo sobrou pra menos
Alguns sentimentos puderam lhe chegar
outros partiram com sua partida.
Viu seu caderninho reacender
porque a tristeza regava sua volta
Apareceu uma fraqueza no seu corpo
uma vontade lenta
um peso curto a respirar
O olhar via ruídos, as pernas encurtaram
Alguma coisa queria sair pra dentro
Aprendeu a se acostumar com o tráfego da vida
E não falaria a ninguém agora, além de si mesma, sobre seus vazios.
Já não cabia compartilhar
brincar com coisa séria
falar onde doía
memórias guardadas
desmanchar no abraço
encontrar os pés descalços
cair no movimento dele
chuveirar de dois
beber coco doce
sem pressa, olhar
Era uma presença ausente.
Acreditava no passado
Ouvia a despedida
Ajoelhava um desejo
eram águas...
Disso que ela fugia desde o começo.
Alguns sentimentos puderam lhe chegar
outros partiram com sua partida.
Viu seu caderninho reacender
porque a tristeza regava sua volta
Apareceu uma fraqueza no seu corpo
uma vontade lenta
um peso curto a respirar
O olhar via ruídos, as pernas encurtaram
Alguma coisa queria sair pra dentro
Aprendeu a se acostumar com o tráfego da vida
E não falaria a ninguém agora, além de si mesma, sobre seus vazios.
Já não cabia compartilhar
brincar com coisa séria
falar onde doía
memórias guardadas
desmanchar no abraço
encontrar os pés descalços
cair no movimento dele
chuveirar de dois
beber coco doce
sem pressa, olhar
Era uma presença ausente.
Acreditava no passado
Ouvia a despedida
Ajoelhava um desejo
eram águas...
Disso que ela fugia desde o começo.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
"Roubei", com autorização, do facebook de Wilka...partilhar coisas belas...
"Ele vai dormir no sofá.
Não porque brigou com ela, não porque se afastou, não porque estão ressentidos.
Não houve desentendimento, princípio de discussão, mentira naquela noite.
Ele vai dormir no sofá por escolha.
Por decisão.
Vai dormir no sofá porque ela não estará em casa.
Quando ela viaja, ele pega seu travesseiro, sua coberta e deita na sala. Liga a tevê e se distrai da solidão.
Tudo o que servia em sua época de solteiro agora o aborrece. Não partirá para festa, beber com amigos ou jogar futebol.
Antes bastava a namorada sair e ele se via livre, louco para rua.
Hoje a mulher sai e ele se vê abandonado.
Liga o som e faz-de-conta que ela está tomando banho.
Como um cachorro, fica mais perto da porta. Como uma criança, fica mais perto da janela.
Não suporta a cama de casal. Não agüenta girar o corpo sem encontrá-la.
Pega um vestido dela no cabide, ameaça cheirar e recua. Conclui que isso já é doença. Mas cheira. Cheira com a vaidade da doença.
Por alguns momentos, tenta imaginar como dormia sozinho na adolescência. Pressiona os olhos com a contundência dos ouvidos. Fracassa. Depois de viver, imaginar é mais difícil.
Ele depende do corpo dela para ler de noite. A luz do abajur é muito fraca, mortiça.
Pisa no quarto para buscar as roupas. O quarto é uma despensa durante os dias da ausência.
Ele acampa em seu apartamento. Muda os hábitos, come qualquer coisa, bebe qualquer coisa, telefona qualquer coisa, trabalha qualquer coisa.
Qualquer coisa é sua vida nas próximas horas.
Ele acreditava que a conhecia. Isso quando a pediu em casamento.
Ele só não esperava não se conhecer depois dela.
Casou com ela com toda a clareza.
E casou consigo no escuro.
Tudo o que conheceu dela desconheceu de si.
Liberou memória na personalidade.
Percebeu que os limites não são os mesmos. Os limites trocam de idéia.
Sua mulher tem limites diferentes hoje de ontem de amanhã.
Não se repetem.
O limite do cansaço. O limite da voz. O limite da brincadeira. O limite da provocação. O limite da paciência. O limite da conversa. O limite dos filhos. O limite do prazer. O limite da educação. O limite do trabalho. O limite do silêncio. O limite do amor.
Assim que ele aprende os limites dela, ela muda os limites.
Não é gozação. Ela não age por mal.
Foi ele que a ajudou a superar os limites."
Fabricio Carpinejar
Não porque brigou com ela, não porque se afastou, não porque estão ressentidos.
Não houve desentendimento, princípio de discussão, mentira naquela noite.
Ele vai dormir no sofá por escolha.
Por decisão.
Vai dormir no sofá porque ela não estará em casa.
Quando ela viaja, ele pega seu travesseiro, sua coberta e deita na sala. Liga a tevê e se distrai da solidão.
Tudo o que servia em sua época de solteiro agora o aborrece. Não partirá para festa, beber com amigos ou jogar futebol.
Antes bastava a namorada sair e ele se via livre, louco para rua.
Hoje a mulher sai e ele se vê abandonado.
Liga o som e faz-de-conta que ela está tomando banho.
Como um cachorro, fica mais perto da porta. Como uma criança, fica mais perto da janela.
Não suporta a cama de casal. Não agüenta girar o corpo sem encontrá-la.
Pega um vestido dela no cabide, ameaça cheirar e recua. Conclui que isso já é doença. Mas cheira. Cheira com a vaidade da doença.
Por alguns momentos, tenta imaginar como dormia sozinho na adolescência. Pressiona os olhos com a contundência dos ouvidos. Fracassa. Depois de viver, imaginar é mais difícil.
Ele depende do corpo dela para ler de noite. A luz do abajur é muito fraca, mortiça.
Pisa no quarto para buscar as roupas. O quarto é uma despensa durante os dias da ausência.
Ele acampa em seu apartamento. Muda os hábitos, come qualquer coisa, bebe qualquer coisa, telefona qualquer coisa, trabalha qualquer coisa.
Qualquer coisa é sua vida nas próximas horas.
Ele acreditava que a conhecia. Isso quando a pediu em casamento.
Ele só não esperava não se conhecer depois dela.
Casou com ela com toda a clareza.
E casou consigo no escuro.
Tudo o que conheceu dela desconheceu de si.
Liberou memória na personalidade.
Percebeu que os limites não são os mesmos. Os limites trocam de idéia.
Sua mulher tem limites diferentes hoje de ontem de amanhã.
Não se repetem.
O limite do cansaço. O limite da voz. O limite da brincadeira. O limite da provocação. O limite da paciência. O limite da conversa. O limite dos filhos. O limite do prazer. O limite da educação. O limite do trabalho. O limite do silêncio. O limite do amor.
Assim que ele aprende os limites dela, ela muda os limites.
Não é gozação. Ela não age por mal.
Foi ele que a ajudou a superar os limites."
Fabricio Carpinejar
domingo, 18 de setembro de 2011
Fragmentos que me fisgaram na peça "o Amor e outros estranhos rumores" 3 histórias de Murilo Rubião
"Todos têm o direito de mudar de lugar.."
"...logo eu que nunca encontrei explicação da minha presença nesse mundo..."
"...logo eu que nunca encontrei explicação da minha presença nesse mundo..."
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
encontrei num blog por aí...e é de Fernando Pessoa...
"Quem escreverá a história do que poderia ter sido o irreparável do meu passado;
Este é o cadáver.
Se a certa altura eu tivesse me voltado para a esquerda, ao invés que para direita;
Se em certo momento eu tivesse dito não, ao invés que sim;
Se em certas conversas eu tivesse dito as frases que só hoje elaboro;
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro seria insensivelmente levado a ser outro também."
Fernando Pessoa
Este é o cadáver.
Se a certa altura eu tivesse me voltado para a esquerda, ao invés que para direita;
Se em certo momento eu tivesse dito não, ao invés que sim;
Se em certas conversas eu tivesse dito as frases que só hoje elaboro;
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro seria insensivelmente levado a ser outro também."
Fernando Pessoa
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Grilos - Marina Machado
Se você passar daquela porta
Você vai ver
Como é que são as coisas
Como é que estão as coisas
Sei que o mundo pesa muitos quilos
Não me leve a mal se eu lhe pedir
Para cortar os grilos
Guardar os grilos
Cortar os grilos
Guardar os grilos
Aí, então, você vai se convencer
Que se o mundo pesa
Não vai ser de reza
Que você vai viver
Descanse um pouco
E amanheça aqui comigo
Sou seu amigo, você vai ver
Sou seu amigo, você vai ver
Se você passar daquela porta
Você vai ver
Como é que são as coisas
Como é que estão as coisas
Sei que o mundo pesa muitos quilos
Não me leve a mal se eu lhe pedir
Para cortar os grilos
Guardar os grilos
Cortar os grilos
Guardar os grilos
Aí, então, você vai se convencer
Que se o mundo pesa
Não vai ser de reza
Que você vai viver
Descanse um pouco
E amanheça aqui comigo
Sou seu amigo, você vai ver
Sou seu amigo, você vai ver
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Três Dias
Marcelo Camelo
Se faltar carinho, ninho,
Se tiver insônia, sonha,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Se encontrar algum destino
Para solidão tamanha,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Se faltar carinho, ninho,
Se tiver vontade chama,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Se você ficar sozinho,
Pega a solidão e dança,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Desaparecer no vento
E acordar no outro instante,
Nó na imensidão do tempo
Todo sentimento faz,
Mas se faltar a paz, se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Marcelo Camelo
Se faltar carinho, ninho,
Se tiver insônia, sonha,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Se encontrar algum destino
Para solidão tamanha,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Se faltar carinho, ninho,
Se tiver vontade chama,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Se você ficar sozinho,
Pega a solidão e dança,
Se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
Desaparecer no vento
E acordar no outro instante,
Nó na imensidão do tempo
Todo sentimento faz,
Mas se faltar a paz, se faltar a paz, se faltar a paz, Minas Gerais.
sábado, 11 de junho de 2011
E outro fragmento da mesma crônica de Clarice Lispector "Persona"
"Mesmo sem ser atriz nem ter pertencido ao teatro grego- uso uma máscara Aquela mesma que nos partos de adolescência se escolhe para não se ficar desnudo para o resto da luta. Não, não é que se faça mal em deixar o próprio rosto exposto à sensibilidade. Mas é que esse rosto que estava nu poderia, ao ferir-se, fechar-se sozinho em súbita máscara involuntária e terrrível. É, pois, menos perigoso escolher sozinho seu uma pessoa. Escolher a própria máscara é o primeiro gesto volntário humano. E solitário. Mas quando enfim se afivela a máscara daquilo que se escolheu para representar-se e representar o mundo, o corpo ganha uma nova firmeza, a cabeça ergue-se altiva como a de quem superou um obstáculo. A pessoa é.
É que depois de anos de verdadeiro sucesso com a máscara, de repente- ah, menos que de repente, por causa de um olhar passageiro ou uma palavra ouvida- de repente a máscara de guerra de vida cresta-se toda no rosto como lama seca, e os pedaços irregulares caem com um ruído oco no chão. Eis o rosto agora nu, maduro, sensível quando já não era mais para ser."
É que depois de anos de verdadeiro sucesso com a máscara, de repente- ah, menos que de repente, por causa de um olhar passageiro ou uma palavra ouvida- de repente a máscara de guerra de vida cresta-se toda no rosto como lama seca, e os pedaços irregulares caem com um ruído oco no chão. Eis o rosto agora nu, maduro, sensível quando já não era mais para ser."
domingo, 8 de maio de 2011
E não é que achei uma crônica de Clarice Lispector em que ela fala de Minas Gerais...
Das vantagens de ser bobo
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem.
Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver.
O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes o bobo é um Dostoievski.
Há vantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar-refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era a de que o aparelho estaa tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Clarice Lispector em Clarice na Cabeceira- crônicas
Para Aline, tão mineira, tão Clarice...
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem.
Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver.
O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes o bobo é um Dostoievski.
Há vantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar-refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era a de que o aparelho estaa tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Clarice Lispector em Clarice na Cabeceira- crônicas
Para Aline, tão mineira, tão Clarice...
terça-feira, 29 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
Veio em mim hoje essa música...
Eu Não Sei Dançar
Marina Lima
Às vezes eu quero chorar
Mas o dia nasce e eu esqueço
Meus olhos se escondem
Onde explodem paixões
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista p'ro mar
Ou outra coisa p'rá lembrar
Às vezes eu quero demais
E eu nunca sei se eu mereço
Os quartos escuros pulsam
E pedem por nós
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista p'ro mar
Ou outra coisa p'rá lembrar
Se você quiser eu posso tentar mas...
Eu não sei dançar
Tão devagar
p'rá te acompanhar
Marina Lima
Às vezes eu quero chorar
Mas o dia nasce e eu esqueço
Meus olhos se escondem
Onde explodem paixões
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista p'ro mar
Ou outra coisa p'rá lembrar
Às vezes eu quero demais
E eu nunca sei se eu mereço
Os quartos escuros pulsam
E pedem por nós
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista p'ro mar
Ou outra coisa p'rá lembrar
Se você quiser eu posso tentar mas...
Eu não sei dançar
Tão devagar
p'rá te acompanhar
sábado, 12 de março de 2011
Sobre a morte... e vida... Para Bruno, amigo querido que perdí esses dias... e este era pura VIDA....
Ainda sobre.
"Quando a morte acontece, até que a gente se acostume, ela se repete. Muitas e seguidas vezes. Ao acordar no dia seguinte, está lá a morte de novo. A cada lembrança, outra morte. E a morte de novo, de novo, de novo. E mais uma vez. Até que em nós ela morra de fato — e isso demora.
Quando você nasceu, filho, foi parecido. Só que era vida. Toda hora a vida de novo. A cada momento olhar e ver a notícia: você nasceu. Ainda hoje é assim. Vivo. Latente. Pulso.
Acho que, por ter desejado longamente a sua vinda, e por você ter vindo justo quando não pedi; até por essa lição que vem com a morte, à qual eu tinha que arranjar contraponto, tive a sorte de aprender: fazer da sua vinda uma alegria.
E fiz. E você fez. E faz. Uma alegria que não cessa. Só cresce e fica mais bonita. "
Cris Guerra em
www.parafrancisco.blogspot.com
"Quando a morte acontece, até que a gente se acostume, ela se repete. Muitas e seguidas vezes. Ao acordar no dia seguinte, está lá a morte de novo. A cada lembrança, outra morte. E a morte de novo, de novo, de novo. E mais uma vez. Até que em nós ela morra de fato — e isso demora.
Quando você nasceu, filho, foi parecido. Só que era vida. Toda hora a vida de novo. A cada momento olhar e ver a notícia: você nasceu. Ainda hoje é assim. Vivo. Latente. Pulso.
Acho que, por ter desejado longamente a sua vinda, e por você ter vindo justo quando não pedi; até por essa lição que vem com a morte, à qual eu tinha que arranjar contraponto, tive a sorte de aprender: fazer da sua vinda uma alegria.
E fiz. E você fez. E faz. Uma alegria que não cessa. Só cresce e fica mais bonita. "
Cris Guerra em
www.parafrancisco.blogspot.com
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Outra de Manoel de Barros, da Bienal, que ví no Palácio e gostei de mais...
"Há histórias tão verdadeiras
que as vezes parece que são inventadas..."
que as vezes parece que são inventadas..."
Nas paredes do Palácio das Artes, um pedacinho da 29ª Bienal de São Paulo
" Muita coisa poderia fazer
em favor da poesia,
(...)
Perder a inteligência das coisas,
para vê-las
(...)
Esconder-se por trás das
palavras para mostar-se
(...)
Aprender a capinar com enxada cega"
Manoel de Barros
em favor da poesia,
(...)
Perder a inteligência das coisas,
para vê-las
(...)
Esconder-se por trás das
palavras para mostar-se
(...)
Aprender a capinar com enxada cega"
Manoel de Barros
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Em meus "guardados", agora, sendo mexidos, encontrei mais esse, da época de faculdade...
"Ela não consegue que ele dê a ela o que deseja dele
ela acha por isso que ele é mesquinho
Ela não consegue dar a ele o que dela ele deseja
ela acha por isso que ele é insaciável
Ele não consegue que ela dê a ele o que deseja dela
ele acha por isso que ela é mesquinha
e
ele não consegue dar a ela o que dele ela deseja
ele acha por isso que ela é insaciável"
Laços
Ronald Laing
ela acha por isso que ele é mesquinho
Ela não consegue dar a ele o que dela ele deseja
ela acha por isso que ele é insaciável
Ele não consegue que ela dê a ele o que deseja dela
ele acha por isso que ela é mesquinha
e
ele não consegue dar a ela o que dele ela deseja
ele acha por isso que ela é insaciável"
Laços
Ronald Laing
Fragmento de Adélia Prado, encontrado em um papel amassado em meus 'guardados"....Clarice que deu...
"Tinha vantagens não saber do inconsciente, vinha tudo de fora, maus pensamentos, tentações, desejos.
Contudo, ficar sabendo foi melhor, estou mais deusa, tenho âncora, paro meu pé por mais tempo.
De vez em quando, ainda fico oca, o corpo hostil e Deus bravo. Passa logo. Como um pato sabe nadar sem saber, sei sabendo que, se for preciso, na hora H nado com desenvoltura. Guardo sabedorias no almoxarifado."
Adélia Prado
Quero minha mãe
Contudo, ficar sabendo foi melhor, estou mais deusa, tenho âncora, paro meu pé por mais tempo.
De vez em quando, ainda fico oca, o corpo hostil e Deus bravo. Passa logo. Como um pato sabe nadar sem saber, sei sabendo que, se for preciso, na hora H nado com desenvoltura. Guardo sabedorias no almoxarifado."
Adélia Prado
Quero minha mãe
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