”In the end, I’ve come to believe in something I
call “The Physics of the Quest.” A force in nature governed by laws as
real as the laws of gravity. The rule of Quest Physics goes something
like this: If you’re brave enough to leave behind everything familiar
and comforting, which can be anything from your house to bitter, old
resentments, and set out on a truth-seeking journey, either externally
or internally, and if you are truly willing to regard everything that
happens to you on that journey as a clue and if you accept everyone you
meet along the way as a teacher and if you are prepared, most of all, to
face and forgive some very difficult realities about yourself, then the
truth will not be withheld from you.”
Eat, Pray, Love. Liz Gilbert.
Fragmentos, estrofes, rimas, músicas, literatura, poesia notáveis aos meus olhos e de outros...
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
E disse Paulinho da Viola...
'Um mestre do verso, de olhar destemido
Disse uma vez, com certa ironia:
“Se lágrima fosse de pedra,
Eu choraria.”
E eu, Boca, como sempre perdido,
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores,
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada,
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra.'
Bebadosamba
sábado, 17 de agosto de 2013
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Mundo Grande
Carlos Drummond de Andrade
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.
Carlos Drummond de Andrade
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.
Sugestões para atravessar agosto...
Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro — e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos — ou precauções — úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile à fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu — sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques — tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não deem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas — coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.
Caio Fernando Abreu
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos — ou precauções — úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile à fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu — sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques — tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não deem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas — coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.
Caio Fernando Abreu
sexta-feira, 22 de março de 2013
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Pra que serve o carnaval?
"Ah, minha amiga
Se fosse carnaval eu te pedia
Pedia um beijo
Pedia o sorriso dos teus olhos
Pedia tua beleza, tua carne, tua intimidade
Que é pra isso que serve o carnaval
Pra afogar todas às magoas
Todo o ressentimento
Pra abrir o couro e fazer o choro
( É pra isso que serve o carnaval )
Pra começar tudo de novo
Pra tristeza sair em forma de marchinha
Regada a todo tipo de bebida
Disfarçada de alegria sem falsa modéstia
Mas ao fim, ao relutante fim, ela vai se embora
Sobra ao chão o confete e as garrafas
Corpos dormidos que foram bem quistos
E nos hotéis e motéis os lençóis usados
O silêncio enfim do ano duro que se foi
Porque o ano só começa mesmo depois do carnaval
A vida diária só começa depois dessa seresta
Depois que já se foi muito sal grosso ao balanço do mar
Ah, minha amiga, O carnaval !
Pra cortar todas as veias
Pra abrir todas as artérias
Pra levantar toda poeira
Fazer correr o sangue novo
Extravasar toda besteira
Todo grito engolido do ano que se foi
Todos estes verbos tem o carnaval
Carnaval não é brincadeira
É coisa séria
É a união da massa em toda sua potência
Ninguém destrói o carnaval !
Quem sabe pensasse o letrado
Em se misturar à gentalha
E daí todos na maior cangalha
Ir sambar o Congresso
Porque o que falta à estes finados
É o tal pé surrado e o coração fudido
Mas que ao som do batuque
Continua sua marcha
Sim, no carnaval todo mundo é igual
Todo peito chora
Toda boca beija
E quer queira ou não
Toda pele extravasa alguma emoção
Aí a magia e o poder do carnaval
Essa ruptura no tempo e no espaço
Esse deslocamento da razão
Onde toda liberdade é feita
À gostos e contra gostos
Porque nos outros dias todo mundo é normal
Nos outros dias é ‘isso pode’ e ‘isso não pode’
Mas não no carnaval
Homem se veste de mulher
Mulher se veste de homem
Tudo fica aberto à fantasia
É a tal lei da alegria
E, exceto a casos fortuitos,
Tudo se dá no maior arranjo
Até ! os casos de amor e traição
Ah, minha amiga
É pra isso que serve o carnaval
E voltando ao começo
Eu te pedia, se fosse carnaval,
Um beijo
Um prolongado e demorado beijo
Pra findar toda dor do meu coração."
Por Rodrigo Brand, aqui http://poesiasbrandas.blog.com/2013/02/07/pra-que-serve-o-carnaval/
Se fosse carnaval eu te pedia
Pedia um beijo
Pedia o sorriso dos teus olhos
Pedia tua beleza, tua carne, tua intimidade
Que é pra isso que serve o carnaval
Pra afogar todas às magoas
Todo o ressentimento
Pra abrir o couro e fazer o choro
( É pra isso que serve o carnaval )
Pra começar tudo de novo
Pra tristeza sair em forma de marchinha
Regada a todo tipo de bebida
Disfarçada de alegria sem falsa modéstia
Mas ao fim, ao relutante fim, ela vai se embora
Sobra ao chão o confete e as garrafas
Corpos dormidos que foram bem quistos
E nos hotéis e motéis os lençóis usados
O silêncio enfim do ano duro que se foi
Porque o ano só começa mesmo depois do carnaval
A vida diária só começa depois dessa seresta
Depois que já se foi muito sal grosso ao balanço do mar
Ah, minha amiga, O carnaval !
Pra cortar todas as veias
Pra abrir todas as artérias
Pra levantar toda poeira
Fazer correr o sangue novo
Extravasar toda besteira
Todo grito engolido do ano que se foi
Todos estes verbos tem o carnaval
Carnaval não é brincadeira
É coisa séria
É a união da massa em toda sua potência
Ninguém destrói o carnaval !
Quem sabe pensasse o letrado
Em se misturar à gentalha
E daí todos na maior cangalha
Ir sambar o Congresso
Porque o que falta à estes finados
É o tal pé surrado e o coração fudido
Mas que ao som do batuque
Continua sua marcha
Sim, no carnaval todo mundo é igual
Todo peito chora
Toda boca beija
E quer queira ou não
Toda pele extravasa alguma emoção
Aí a magia e o poder do carnaval
Essa ruptura no tempo e no espaço
Esse deslocamento da razão
Onde toda liberdade é feita
À gostos e contra gostos
Porque nos outros dias todo mundo é normal
Nos outros dias é ‘isso pode’ e ‘isso não pode’
Mas não no carnaval
Homem se veste de mulher
Mulher se veste de homem
Tudo fica aberto à fantasia
É a tal lei da alegria
E, exceto a casos fortuitos,
Tudo se dá no maior arranjo
Até ! os casos de amor e traição
Ah, minha amiga
É pra isso que serve o carnaval
E voltando ao começo
Eu te pedia, se fosse carnaval,
Um beijo
Um prolongado e demorado beijo
Pra findar toda dor do meu coração."
Por Rodrigo Brand, aqui http://poesiasbrandas.blog.com/2013/02/07/pra-que-serve-o-carnaval/
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